sábado, novembro 03, 2001


Acho que a idéia de revelar este blog para algumas pessoas não foi boa.Estou novamente em fase de tolerância menos um milhão. Não agüento mais “falar” e não ser entendida. Dá uma tremenda frustração!

quinta-feira, novembro 01, 2001

Alguns cumprimentos me incomodam. Certas pessoas não entendem que eu não quero o abraço, não quero o presente, não quero ser lembrada, não quero tomar chopinho com elas. Droga! Não se mancam, não percebem que não gosto delas! Sou educada, nunca falo isso às claras, e os gestos evidentes não convencem!

Outras lembranças me emocionam, me fazem tão bem! Os esquecimentos não me incomodaram desta vez.

Primeira pessoa a me cumprimentar foi Barbazul. Fiquei feliz com essa lembrança, certamente sincera. Haiael falou comigo ontem. Mônica me mandou um cartãozinho singelo e lindo. Ela tá me cumprimentando há uma semana! Marisinha, que perdeu a mãe há apenas três dias, conectou hoje só pra me dar "omedetou" (parabéns). Fiquei emocionada.

Eduardo ligou à noite. Não esperava. Ele estava viajando. Final de férias. Ele ainda está espantado com minhas últimas revelações, algumas das quais por este blog. Recomendou-me juízo e disse que achou-me ótima, radiante. Disse-me coisas que me deixaram emocionada: que precisamos ainda ir juntos ao museu do Ipiranga, voltar ao restaurante da rua da Glória, à Santa Efigênia, ao terraço Itália... coisas que a gente vem adiando, coisas que fiz com outras pessoas e que valem mesmo a pena fazermos juntos. Rimos um bocado. Quando eu falei que tinha Síndrome de Peter Pan, ele disse que a Síndrome dele devia ser dos Meninos Perdidos. eheheh. Felicidade é ter um amigo assim. Por 24 anos!

No final da noite, por e-mail, duas mensagens de duas Ângelas, igualmente amigas: uma de N. York e outra de Sampa. Ambas muito queridas.

Algumas pessoas têm atitudes absurdamente estranhas nestas ocasiões. Ronin, com quem fiz as pazes recentemente, havia me convidado para sairmos hoje. Disse que gostaria que fôssemos tomar alguma coisa juntos. Sacana, fez isso sabendo que eu recusaria. Com tantas opções, por que diabos sairia justo com ele na noite do meu aniversário? Ainda atiçou minha curiosidade dizendo que tinha me comprado uma surpresa. Hoje, ele nem me cumprimentou!

Outro esquisito é o Alfredo. Segunda-feira fez comentário do tipo: "nosso aniversário está chegando" (ele faz dia 5). Hoje, nem um comentário. Falou comigo sobre o ICQ 2001 e nenhuma referência ao dia de hoje. Eu também não vou cumprimentá-lo! Eh, eh, eh!

Meu amigo do Rio também escreveu. Disse que ainda me acha maravilhosa, que quer me olhar nos olhos e reafirmar isso. Atribuiu nosso desencontro a algo do tipo "fatalidade". Há um ano atrás, isso teria me deixado nas nuvens. Desta vez, nem respondi. Não sei o que isso significa, mas a mágoa ainda não passou não.

Eu tirei a data de nascimento do ICQ. Me incomodava aquele pipocar de cumprimentos obrigatórios.

Julius disse que eu estou ligada a aqueles cheiros da infância, ao doce aroma da melancia. O dia em que eu nasci era Festa da Melancia na cidade dele. Bom... pelo menos ele adora melancia! Ah, ah, ah!

No ano passado, eu chorei um bocado foram muitas emoções. Pena que perdi o que escrevi naqueles dias. Há um buraco no meu outlook entre setembro/2000 e janeiro/2001. Ficaram no falecido HD IBM. Muitas coisas precisavam ser enterradas, esquecidas. Textos que registraram momentos muito bons também se foram com ele. Porém, os especiais ficaram na minha memória. Felizmente consegui apagar as mágoas maiores, como certo cumprimento que só chegou no final daquele dia, às 18 horas.

O cartão de minha filha e o texto que ela escreveu, guardo com toda corujice de quem não se cansa de repetir que é ela a minha maior obra-prima: tudo que consegui reunir, concentrar, em termos de talento, inteligência e beleza!

Como sempre, dispensei os presentes e resumi as comemorações familiares a um almoço simples. Fomo cedo ao restaurante, por causa da escola da minha filha. Nos reunimos com uma de minhas sobrinhas, que aniversariou dia 30 e o novo namorado, que nasceu no mesmo dia. Foi tudo muito descontraído e alegre.

Sempre que aniversario me relembro de algumas passagens especiais na mesma data. Única festa “de verdade” que eu tive, com direito a bolo, velinhas e “parabéns pra você” foi a dos 18 anos. Ainda tenho as fotos. Fotos de boa qualidade, tiradas no Minolta que mamãe trouxe do Japão. José Luiz ao meu lado... Também me faz lembrar da redação que o conquistou “Um dia Inesquecível”. Ele era filho da minha professora de Português, no segundo ano do curso técnico. Aluno exemplar, ajudava a mãe a corrigir as redações. Leu a minha, gostou do que eu escrevi sobre esse tema e foi falar comigo. Já nos conhecíamos de vista e o texto falava de um dia muito lindo que passamos em Atibaia, no final de um campeonato de vôlei.

Ele jogava no time principal de Bragança. Moreno, filho de egípcio com francesas, era um dos moços mais cobiçados de minha cidade. Além de tudo, era descendente de barão do café. Decadentes, mas com tradição na cidade. Quando ele se interessou por mim, fui às nuvens. Jamais havia sonhado em disputar o amor dele. Na verdade, namorei-o por dois anos só por vaidade. Gostava de desfilar com ele, provocar invejas. Quando eu fiz 18 anos, ele já cursava o terceiro ano de Economia e trabalhava no Banco do Brasil. Além de cortadas fantásticas no vôlei, ele nadava muito bem.

Por que terminamos? A grande verdade: nunca senti tesão. Um dia falei isso pra ele: “que faltava química”. Que nos abraçávamos, nos beijávamos e eu não sentia absolutamente nada! Aceitava a atenção, os carinhos, dançávamos, nos divertíamos, éramos o “casal 20” da época. Incentivados pelos professores, parentes, amigos... Não há como esquecer José Luiz porque ele foi meu padrinho de formatura. As fotos da colação de grau estão no álbum: ele colocando o anel no meu dedo, na Catedral de Bragança. O anel ra meu sonho de consumo: um chuveirinho de formatura. O anel, de turmalina rosa, ouro branco e safiras está ali, numa caixinha na gaveta. Nunca o usei depois daquele dia. E também nunca fui contadora. Só se for de histórias.

Também me lembro de duas vezes em que ganhei muitas flores. Talvez por ser véspera de Finados, não gosto de ganhar flores. A primeira foi um buquê de rosas bem vermelhas, radiantes, que chegou na minha sala de aula, no meio da aula de História, com a dona Haydée. Foi por volta de meio-dia, pouco antes do final da aula. Minha sala, do primeiro colegial, ficava ao lado da diretoria e lembro-me até hoje, fotograficamente, da cena: a inspetora de alunos, com seu avental cor-de-rosa, abrindo a porta e chamando meu nome. Quinze anos! O remetente misterioso: um fã! Não, não era o rapaz que eu namorava há quase dois anos. Fora outro: um estudante de engenharia que nem estava no dia na cidade. No meio do caminho para casa, o tal buquê ganhou um lugar na lata de lixo. Mas a lembrança do gesto inusitado ficou registrada para sempre na minha memória.

Outras flores pelo aniversário, ganhei uma única vez do Paulo. Foi no primeiro ano de casados. Sei que ele quis demonstrar seu carinho diante de todos. Mas fiquei furiosa quando mandou entregar no trabalho. Era um arranjo de hortênsias azuis com um patinho e um gato recheado de bolinhas de isopor. Logo no primeiro ano de casada, a surpresa da noite foi uma comemoração com um casal amigo. Não pude disfarçar minha decepção. Meu sonho, eu acho que sempre foi um jantar a luz de velas. Os olhos nos olhos. As coisas mais importantes para mim: apertar as mãos com força, olhar no fundo dos olhos... São gestos que só têm sentido se o outro puder sentir igual... Ai, ai...

quarta-feira, outubro 31, 2001

Fiz minha boa ação de hoje. Um leitor de um dos “meus” livrinhos de piadas me ligou perguntando sobre três músicas citadas num besteirol. Senhor de 62 anos, fabricante de máquinas no ABC. Falei com uma amiga do Icq que é antenadíssima nesses assuntos. Não é que a mulher sabia quase tudo? Deu o título de duas delas e acertou quem cantava a terceira. Fiz uma busca pelo KaZaa, baixei as versões em MP3 e passei por e-mail pro tal leitor. Vibrei com a felicidade dele!
Tem coisas que custa tão pouco a gente fazer, não é mesmo?

Ontem falei com Alberto. Depois da euforia inicial com os sobrinhos, ninguém retornou as ligações dele e tudo ficou na mesma. Coitado. Mas ele disse que já está acostumado. Está feliz em saber que pelo menos a mãe está viva. Segundo a mulher dele, ele ficou muito animado depois da minha visita. Conversamos bastante por telefone. Ele diz que eu sou o único elo com o mundo cultural... Coitado...

segunda-feira, outubro 29, 2001

Aproveito que ainda estou no comecinho de outro trabalho estafante para atualizar as informações.

Tem certas coisas que é difícil confessar aqui. Entre saudades de Julius e desencontros, fui ver novamente o tal novo amigo colunista. Na outra semana foi um jantar e no último sábado, um papo mais íntimo. Ele ficou enbevecido. Eu fiquei consternada e constrangida. Sei que estou brincando com fogo. Com fogos faiscantes, brilhantes, reluzentes que enchem o céu e com balões inflamáveis. É um esporte pouco recomendável e perigoso. Mas não vou me machucar ou machucar alguém. Preciso tomar cuidado para evitar acidentes, explosões.
Minha cabeça tá agora baita confusão. Na verdade, fiz isso para tentar desencanar Julius. Não quero novamente me apaixonar daquele jeito. Sei que corro grande risco. Sigo os conselhos do Baixinho de Taubaté e aumento todos os defeitos, me concentro nas coisas ruins, mas tô mal mesmo: nada parece defeito! Depois que ele me mandou tantos poemas falando do meu cheiro, o cheiro dele também não me sai da cabeça! Minha amiga Rita disse que vai me internar se eu ficar recusando tantas boas oportunidades que aparecem à minha frente!
Mas a verdade é que nunca encontrei alguém assim ! Só eu sei bem o significado dessas linhas. E das entrelinhas. Não sei até quando... Que seja infinito quanto dure. E só eu sei o que é essa comunhão!


Me perco em teus devaneios,
teus cabelos negros e curtos,
anseios que há tanto seduz...

Teu cheiro é de primavera,
de mulher madura,
de rosa, dos espinhos
que suportamos,
dos caminhos que trilhamos...
das verdades que ousamos...

Teu cheiro é de criança
do sorriso sem motivo
do sabor de paraiso
da alegria de viver...

Teu cheiro que me envolve
pode ser da minha imaginação
pode ser do teu coração
pode ser tua alma volitando
pode ser teu sangue retornando
dos caminhos do prazer...

que me importa?
só me importa que eu te cheire
que o meu ombro seja teu aconchego
que meu colo seja teu porto
no conforto de saber
que teu sorriso encontra ressonância
que teu desejo se sacia em minha fonte
como bebo da agua do teu corpo...

que me importa?
só me importa que de vez em quando
posso ler em tuas linhas
que podemos simplesmente compartilhar
esta comunhão sem posse,
este querer sem fim
e assim te dizer toda vez
se eu morresse hoje
seria com um impertinente sorriso
de plenitude que incomodaria
todos presentes na solidão
de nunca terem tentado...
Mais de dez dias sem escrever aqui. Gripe e uma série de contratempos que acabaram com qualquer inspiração. Ou melhor: gastei toda minha inspiração no trabalho. Depois, passei os dias atropelada por problemas dos outros. No sábado anterior ao último, a mulher de meu amigo Alberto me telefonou pedindo para ir visitá-lo em Taboão da Serra pois ele estava numa crise depressiva. Larguei todos os compromissos, engoli uns comprimidos e fui pra lá, passar o dia.
Alberto foi meu colega na ECA mas tem 13 anos a mais do que eu. Somos amigos há mais de 23 anos. A vida dele é uma novela e tanto.

Quando o conheci, ele era tradutor técnico de uma multinacional, morava num flat e trabalhava de terno e gravata. Usava camisas com monogramas bordados e tinha até secretária para datilografar os textos numa IBM de esfera. O mundo deu muitas voltas e há 20 anos nasceu a primeira filha dele, que ganhou meu nome em japonês. Fiquei muito sensibilizada com essa homenagem. Nunca imaginei que alguém pudesse me achar tal exemplo de pessoa. Desde então, praticamente acabei adotando Alberto como irmão.

Depois da minha xará, veio outra menina, agora com 13 anos, nascida de outra relação eventual de meu amigo com uma garota qualquer. Há uns 4 anos, depois de uma temporada no Japão como dekassegui e outras desventuras, meu amigo se casou com uma professora secundária e já têm mais dois garotos, de 3 e 2 anos. Em dezembro, nasce o terceiro, a quem darão o nome de meu irmão mais novo. (A esposa de meu amigo gostou do nome e das coisas que ele tem falado pela tv).

Além de desempregado e doente (artrite), Alberto estava deprimido pois havia perdido contato com a família e anda cansado da vida de dono-de-casa como ele mesmo diz. Não sabia se a mãe (com 85 anos) estaria ainda viva. Há pouco mais de um ano descobriu que a única irmã se mudara do apartamento onde morou durante 30 anos, sem deixar novo endereço. Mesmo tendo um sobrenome japonês raro, não conseguia localizar ninguém pela lista telefônica. De repente, veio à minha lembrança um comentário antigo sobre um dos sobrinhos que teria ido cursar a Academia de Barro Branco. Esse foi o ponto de partida para minhas investigações. Com o nome do rapaz à mão, em menos de 4 horas, na segunda-feira depois dessa visita, consegui falar com os familiares dele. Quem me ajudou muito foi um anjo: Haiael, que ao ouvir minha história me indicou imediatamente o lugar onde o sobrinho do Alberto trabalha agora, como subcomandante da PM. Ele estava licenciado justamente para cuidar da avó doente. Não sei ainda a gravidade do problema, mas a tal senhora fora trazida há uns 15 dias de ambulância do interior. Pelo menos consegui estabelecer as coordenadas para o reencontro!

Por conta dessa história, fiquei uns dias em parafuso e só na quinta-feira consegui matar saudades de Julius. E que saudades!