sábado, outubro 25, 2008

continuando a história da POMBA

Cinco dias depois daquele domingo inesquecível, chegou uma carta. Envelope aéreo, papel idem. Fininho, dobras perfeitas. Primeiro uma ponta em diagonal, se encaixando com outra extremidade do papel retangular, tudo se encaixando feito origami de um aviãozinho pela metade. O coração disparou e fixou para sempre aquelas letras perfeitas, de caneta-tinteiro azul lavável. Li tantas vezes que cheguei a decorar. Eram, se não me engano, quatro folhas!
Respondi no mesmo dia, passando a limpo. Subi as ladeiras da minha cidade, chegando em tempo ao correio. Carta expressa e registrada!
Assim, ao longo oito meses, um pacote de cartas semanais. Às vezes as respostas se cruzavam e se desencontravam! Também alguns caríssimos e demorados telefonemas dados do armazém vizinho, a uma quadra de minha casa. Coração saindo pela boca. Verão e outono dos meus treze anos! Até que...

domingo, outubro 19, 2008

a história da POMBA

Vou colocar aqui o resumo da historinha de Lígia Fagundes Telles, que inspirou a apresentaçao deste blog:

"o conto Pomba enamorada ou uma história de amor apresenta a trajetória de uma mulher desprezada pelo amado. Tudo começou no baile em que fora coroada a princesa da primavera, “já que o namorado da rainha tinha comprado todos os votos”, onde conheceu Antenor, homem que não “esquentava o rabo em nenhum emprego”, que lhe confessou que ela “é que devia ser a rainha porque a rainha é uma bela bosta”. Apesar de ter sido um encontro fugaz, este marcara a personagem, que, a partir de então, nunca mais esqueceu o sujeito. 

Visto que neste baile Antenor saíra com uma “escurinha de frente única”, a personagem acabou tendo que se desdobrar para encontrar o paradeiro de seu amado. Acabou descobrindo-o trabalhando numa oficina e, ao visitá-lo, foi tratada de forma extremamente rude por Antenor. Entretanto, ela parece não se incomodar, visto que, após ligar várias vezes para seu trabalho “somente para ouvir sua voz”, acende diversas velas na ânsia de conquistar seu amor. Vendo que Antenor não se manifestava, ela começou a escrever cartas de amor sob o pseudônimo de
Pomba Enamorada, mas, ainda assim, Antenor não se rendeu.

Na sua louca busca, Pomba Enamorada acaba se humilhando: telefonou, mandou Rôni (seu amigo homossexual) dar recados a Antenor, esperou-o na saída de seu serviço, fez macumba; mas nada fazia com que Antenor mudasse de idéia. Mas o golpe quase fatal viria com a notícia de que seu amado estava de casamento marcado. Quando ocorreu o casamento, ao invés de chorar, Pomba Enamorada “foi ao crediário Mappin, comprou um licoreiro, escreveu um cartão desejando-lhe todas as felicidades do mundo (…)e quando chegou em casa bebeu soda (cáustica)” Após sair do hospital, cinco quilos mais magra, escreveu-lhe mais um bilhete “contando que quase tinha morrido mas se arrependia do gesto tresloucado que lhe causara uma queimadura no queixo e outra na perna, que ia se casar com Gilvan que tinha sido muito bom no tempo em que esteve internada e que a perdoasse por tudo o que aconteceu.”

Os anos passaram, e, apesar de casar, Pomba Enamorada nunca esqueceu de Antenor, sua grande paixão. Por exemplo, “no noivado da sua caçula Maria Aparecida, só por brincadeira, pediu que uma cigana deitasse as cartas e lesse seu futuro.” A cigana disse que um homem cujo nome iniciava com A., com cabelos grisalhos, costeleta, motorista de ônibus chegaria à rodoviária e mudaria sua vida por completo. Apesar de dizer que tudo era passado, Pomba Enamorada sabia que Antenor era motorista de ônibus e, no dia marcado, se dirigiu para a rodoviária."

Este é o começo para que, em seguida, eu conte duas longas historinhas de minha vida passada. De quando vivia minhas paixões romanticamente... Aquilo tudo aconteceu em 1970. Começou mais exatamente no dia 4 de outubro daquele ano. Me lembro bem da data pois no dia 4 de outubro do ano anterior foi casamento do meu falecido irmao...

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Cidade do interior. Tarde chuvosa de 1970, mês de outubro. Mocinha desajeitada,me sentei na primeira fila de um auditório improvisada de um clube da colônia. ERam tábuas sobre caixas de tomate, forradas de papel manilha rosinha. Tenho ainda nítida na minha memória a cena.
Dia de concurso de canto. Orquestra contratada estava no palco e entre os músicos, dois jovens de São Paulo. Adolescentes alvoroçadas comentavam sobre os rapazes. Galãs guitarristas. Curiosa, sentei-me na primeira fila. Nossos olhares se cruzaram. Arrepio, sensaçao de calor. Inacredutável. Ele olhou mesmo pra mim!
Justo pra mim, a mais pobrinha, desengonçada, desarrumada. O rapaz mais bonito, mais desejado, paquerado pelas garotas da cidade. Fazia frio e eu usava sandálias brancas nada a ver com a roupinha. Roupa de menina, de lasie azul-claro que minha irmã havia costurado. Que vergonha...  E ele olhou pra mim! Desceu do palco, veio em minha direção. Fomos ao bar improvisado. Ele pediu um guaraná, me ofereceu um copo. Não sabia o que conversar. Em pequeno pedaço de papel, anotou um telefone, endereço, uma espécie de autógrafo. Pus meu nome e endereço em outro papel e entreguei!