sábado, novembro 22, 2008

ai, ai

(suspiros)

normalidade

Pra nao pensarem que deixei de lado minha vidinha paralela, vou contar uma coisa... Ou melhor, deixo aqui registrado que ontem à noite, mandei um torpedo falando da Lua, pra uma pessoinha que foi remar. Mas acho que não levou o celular.  Mesmo assim, com certeza, teve luar, sim!

Loucuras

Fui um tanto desesperada no último post. Mas nem é pra tanto. Apenas o cansaço e dias às voltas com final do meu inferno astral. Tá certo, agora estou no paraíso? Não... segundo um guru astrológico com quem trabalhei certa época, o certo seria chamarmos o período em volta do nosso níver de quarentena astral. Ficamos hipersensíveis. 
Veio o Finados e os dias foram muito, muito difíceis mesmo. Dizem os orientais que nessa época os falecidos vêm à Terra visitar as famílias. Cresci com essa crença. Sem medo de Finados, que é sempre uma data festiva, mas com estranha sensaçao de que tem mais gente por perto. Às vezes tenho essa certeza quando uma de minhas gatinhas pula nas minhas costas, no meu ombro. Quem faz isso é Spyke, a caçulinha dos filhotes nascidos aqui em casa. Ela é branquinha com pintinhas pretas, uma quase dálmata. Tem a carinha meio torta, piorada no aspecto devido a manchas. Os olhos são meio caídos, tristes, de um estranho amarelo. Sempre percebe minha melancolia e, nessas horas, vem afofar meu colo. Se eu choro, ronrona pra mim. Édipo, o avô dela, também era assim. Primeira vez que Édipo saltou no meu ombro foi quando voltei do enterro da minha mãe.  Uma senhora que morou aqui no prédio e que era meio tipo bruxa me disse que tinha "bichinhos", o que entendi que fossem "encostos".
Não entendo que todo tipo de encosto seja ruim. Sem dúvida que nao. Às vezes também penso se pessoas reencarnam como bichos. Às vezes tenho certeza de que gatos foram gente. Às vezes olho pra eles e fico imaginando se alguns seriam meus parentes. Às vezes acho que isso é maluquice minha. Às vezes tenho certeza disso!

Falei pra minha xará quase homônima que iria contar em breve o causo do moço que conheci na Década de 70 pela Revista Melodias. Foram tempos pré-históricos em que a gente engatinhou nos primórdios do que hoje chamamos de relações virtuais.  Quando me lembro disso, me lembro também que conheci o linotipo, as fotonovelas e a caneta-tinteiro. Pudera! Já passei de meio século de idade. Sim, faço parte de uma geraçao privilegiada que testemunhou de camarote tantos acontecimentos fantásticos!  Fico imaginando o que se passava pela cabecinha de dona M a t s u, a sogrinha dos meus irmaos mais velhos. Ela partiu no dia 17, rumo aos 102 anos. Lúcida, se manifestando enquanto conseguia. Primeiro perdeu a audição. Durante muitos anos, ficou só escutando o mínimo. Mas lia e falava o necessário. Só frases sábias. Em julho, se despediu da minha irmã (a primeira nora), dizendo o quanto era abençoada, feliz, muito orgulhosa da família maravilhosa que constituiu.
Ainda me lembro do dia em que sepultamos o filho mais velho dela, meu cunhado. Já quase nonagenária, se dirigiu à casa que fora dele e, solenemente, agradeceu à nora pelos anos que dedicou ao filho dela. Ficamos todos muito emocionados .  Também quando meu irmão, genro dela, se matou, ela foi a única pessoa a se lembrar todos os meses da data em que ele partiu. Acendia incensos e lia sutras budistas pela alma dele.

Sempre que alguém morre, fico pensando e repensando se existe mesmo o além, o outro mundo, outra vida. Se pessoas de diferentes crenças, religiões ou mesmo as que nada têm se encontram do outro lado. Se superam essas barreiras e barreiras de línguas. Imagino que sim. Se sim, fico pedindo a Ju que siceroneie esse pessoal todo. Imagino-a de vestido amarelo florido, cabelo arruivado e batom muito vermelho, sorrindo e recepcionando. 
Meu pai sorridente, minha mãe com cara meio tristonha. Meu irmão recomposto daquela magreza, todo alegre. Imagino meu cunhado com ar sábio, falando: "Yatto kitte kuremashita" (Finalmente veio) pra maezinha dele. Imagino meu pai falando: "Maa ganbarimashita..." (Como se esforçou). E ela levanta a cabeça e sorri, olha com carinho para o marido dela, que partiu 20 anos à frente. Até meu irmão suicida está mais sereno... De longe, muito tímidos, acenam dona A n a  e seu J o a o, pais de Alice, que estão em outra roda, de portugueses.  Também se aproximam outros parentes, conhecidos da colônia. Todos admirados com a longa jornada física da velha senhora...

Ufa! Me perdi com essas divagações. Não sobraram fôlego e tempo pra falar do Amigo Desconhecido da revista Melodias. Fica pra próxima!
 

terça-feira, novembro 18, 2008

constrangida

Quero escrever mil coisas, mas leio tantos blogs bons, bem escritos, e fico envergonhada com a minha incapacidade de expressão. Tantas pessoas que conseguem transmitir de modo preciso as sensaçoes, ter certezas sobre as coisas... Sinto-me perdida. 

Há tempos que minha amiga Alice e eu cogitamos escrever algo sobre nossa experiência de sermos mães de filhas crescidas. Título sugerido por ela: "Mãe também quer colo".

Nas últimas semanas, tenho chorado muito. Lágrimas brotam doloridas. Literalmente me machucando os olhos, o coraçao. E parece que nao conseguem lavar a alma. Isso ocorre cada vez que levo bronca de minha única filha. É a coisa mais doída deste mundo. Sensaçao igual só tive com meu pai. Cada vez que ele falava sério comigo, passava noites soluçando. Sentida. Creio que é a estreita ligaçao que causa isso. E a impotência. Tristeza de não estar sendo "boa" para ela. Impotência, com aquela pergunta: "Onde foi que eu errei?"

Difícil, nesta luta, é que, de repente, há um ano e 9 meses, perdi um companheiro e ganhei mais um filho. Um filho deficiente, de 80 quilos e 1,75m, que precisa de mim para tudo. Que precisa de ajuda para as mínimas necessidades, requer cuidados especiais, tem convulsões, diz o tempo todo que tem fome, pede cigarro e esquece o tempo todo da situação em que se encontra. Tem dias em que perco a paciência e me vejo sendo ríspida e agressiva com ele. Aí, quando leio outros relatos corajosos, como a mãe de Francisco (do blog Para Francisco), ou a valentia de Fal (dos Drops), ou quando recebo notícia como a morte do desenhista Claudio S e t o, sinto-me pequena, muito pequena. Sinto-me, sobretudo, abençoada por todas experiências que têm me enriquecido tanto. Sinto-me ridícula. Sinto-me fortalecida para lutar. Acredito que exista de fato alguma razão para que Deus tenha mesmo me escolhido para iluminar meu caminho.