sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Dá licença pra eu chorar um pouco?!





No último dia 17 perdi um grande amigo. Amigão ao longo de 34 anos. Quando nos conhecemos, eu tinha 20 anos e ele, 33. Estudávamos juntos. Não sei em que momento começamos a conversar...

Ele foi mais um irmão mais velho. 

Mas às vezes parecia mais novo. 

Eu cuidei dele. Ele cuidou de mim.

Discutimos, discordamos, nos desentendemos.
Ele me ajudou muito. Eu tive oportunidade de ajudar até o fim e depois do fim.

Foi meu guru, me deu muitas respostas... sendo que acreditei em muitas e em muitas, não. Mas isso não nos afastou.


Ele também me deixou muitas vezes desacorçoada, desalentada, com raiva.

Também foi a pessoa que com mais fervor orou por mim, por minha família, e com maior sinceridade me consolou, me amparou.

Ele estava na lista formada entre os dedos de uma mão...


Entre as coisas marcantes que ele me disse, a mais importante foi a de que eu sou uma escolhida por Deus. Ainda tento entender o que isso significa... Tomara que mereça isso tudo, se ele tinha razão.

Só hoje, sete dias depois, consegui chorar... Como aconteceu com meus irmãos, minha mãe...

Dói muito constatar que nunca mais ele me responderá.

Nascido no interior, com parteira, foi dado como natimorto. E respirou no dia seguinte, graças à mãe que se recusou a sepultá-lo. Ela também não acreditou que a ele restaria uma vida vegetativa. Entretanto, aos seis anos conseguiu andar sem ajuda. E só aos doze mastigou sem problemas... Superou o desespero, a depressão, tentações diante da morte. Autodidata, enfrentou supletivos e chegou à Usp onde nos encontramos. Ele tinha 33 anos e eu, 20. Era então um senhor executivo, que usava ternos alinhados, camisa com monograma e gravata personalizada... E às vezes me convidava para jantar no bar, fugindo do bandejão.


Nunca imaginaria tudo que ele passou e o que viveria na outra metade da sua vida que eu acompanhei. Sim, exatamente metade pois  foram 33 anos e meio, pra ser exata. Agora que percebi...


Nos últimos cinco anos, ao me contar de sua experiência, pude compreender o que é um problema neurológico. Pude entender o que é ter complexos. Pude ver como é possível se superar. E me encheu de esperanças. Principalmente quando não me restava mais nada.
E em instantes em que entrei em contagem regressiva, me deu de presente orações. Sua fé me permitiu ficar em pé. Mesmo eu não tendo conseguido abraçar essa fé, seguir seu caminho, aprendi a entender, respeitar, ver muitos caminhos.


Obrigada, Alberto!



Colo aqui uma parte de nossa história, que eu escrevi no ano passado, para um concurso de textos,  colocando as palavras na boca dele...

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Ao me tornar pai, escolhi para minha filha um nome em japonês, H i r o mi, para homenagear uma grande amiga,  então colega de faculdade. Quando a menina tinha pouco mais de dois anos, me desentendi com a mãe dela e nunca mais as vi.

Em 2010, aos 66 anos, estreei na Internet e minha amiga H i r o m i, já veterana no mundo virtual, criou para mim um e-mail e uma página no orkut. Era ela quem tinha a senha e entrava tanto na minha página como no meu e-mail.

Ainda tentava aprender a navegar quando ela me ligou pra dizer que tinha uma novidade. Havia chegado uma mensagem para mim. Como? Eu ainda não havia divulgado meu e-mail.

 Dizia: “Pai, me telefona.” O número do telefone era de outro Estado. Telefonei. Ela contou que me procurava há anos, até mesmo no cartório eleitoral, mas eu não atualizava meus endereço há anos.

Minha filha explicou que já contatara meia dúzia de A l b e r t o s  T a k e d a s  na Internet. Enchia-se de esperanças e depois constatava que era um homônimo. 

Mas quando viu o nome de H i r o m i  na minha página, J o r d a n a   H i r o m i  não teve dúvidas de que se tratava do pai dela porque ela sabia de onde originava seu nome.

Esta é a história inesquecível que vivi com minha melhor amiga, conhecida  há mais de 30 anos, a quem um dia homenageei dando o nome dela à minha filha. 


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Não sei se perdi, não sei o que aconteceu. 

Não sei o que será.

Só sei que não vamos conversar mais. 

Nunca mais.


Mas continuarei com esperanças!