domingo, maio 12, 2013

DIA DAS MÃES


Minha mãe tinha muitas máximas, em sua maioria ditos populares do antigo Japão.  Nos meus momentos de dificuldades, hoje busco força e sabedoria naquelas frases...

"Ue ni mo shita ni mo kiri ga nai" (não há limites pra cima ou pra baixo)
Dizia sempre que a gente estava chateada com alguma coisa ou alegre demais.

"Nana ochi, ya oki" (cair sete vezes, levantar-se oito).

"Dashita kotoba wa hirowarenai"  (Não dão pra recolher palavras jogadas ao vento)

"Hito ni warawareru you na koto suruna" (Não faça nada do que os outros possam rir)

Em 2004, eu estava por conta de dar apoio a minha filha, no primeiro e duríssimo ano da Academia Militar. E ela só vinha nos finais de semana pra casa. Por isso sei que não fui lá no domingo, Dia das Mães. 
 Fui umas duas semanas antes e passei duas noites por lá, na casinha de três cômodos, ao lado de onde meu irmão mora. Cozinhei pra ela, fiz carne com curry, usando tempero importado do Japão. Ela fez missoshiru e arroz branco. Comeu muito, disse que meu prato estava delicioso. Levei um tricô, um colete de lã 
100%, cor natural de carneiro, pra minha filha
 enfrentar as madrugadas geladas no Horto Florestal onde fica o B arro B ranco
. E minha mãe ficou mirando com ar de inveja. Ao voltar pra casa, escolhi cuidadosamente uma lã cinza-azulada e confeccionei um colete bem comprido, um ponto caprichado. Enviei por sedex. 
 Mamãe pareceu toda envaidecida, mas 
não chegou a usar o colete
. Aquele inverno não lhe deu oportunidade pra sair 
 de casa 
e ela ficou, como sempre,
"economizando", 
esperando uma oportunidade especial pra estrear a roupa nova. Na véspera de Finados, minha mãe foi embora... Mas acho que ela ficou feliz. Perto dos 50 anos, finalmente eu tricotei uma roupa pra ela... Nossa, como fui egoísta!
 Antes, só havia feito cachecóis pra ela. Roupas, só pra mim, minha filha e marido... 

Aí me lembro de outra máxima dela, de que o que vale na vida de uma pessoa são seus últimos momentos. São esses que ficam mais firmes na nossa memória. E a última semana, tive o privilégio de passar todas noites com ela, no hospital, após a cirurgia de fêmur. Também os últimos banhos, fui que dei... Foram situações únicas que agora parecem me compensar por tanto tempo que fiquei distante dela.